O Pensador |
O QUE NÓS SOMOS? O que são os eventos a nossa volta? Podemos confiar neles? O que é a existência e a extinção? Como ser um bem-aventurado? Existe a veracidade? O que é judicioso, o que é inconveniente? Interrogação como essas seguem a filantropia desde seus primórdios e tão cedo não a desistirá. Todo mundo já se fez, algum dia, interrogações desse tipo, para as quais as respostas nunca são simples. Mas então por que nos fazemos essas perguntas? Também é difícil saber.
Seja como for, deve ter sido dessa natureza questionadora dos homens que a Filosofia nasceu. Questionamento que é ainda hoje sua marca mais forte. Para a Filosofia, as indagações são bem mais importantes que as respostas. Ela é, prioritariamente, uma pergunta.
Baruch Spinoza |
É esse o espírito que buscamos para este blog filosófico: sempre daremos poucas respostas do que promover interrogação sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca. Por isso em alguns de nossos artigos privilegiamos e dedicamos a um dos maiores filósofos do último século, Baruch Spinoza, entre os que mais se dedicaram a refletir sobre a condição do homem no mundo. E que tal um trajetória pelos momentos de alguns fundadores da ética, disciplina cuja importância não pára de crescer nos dias que correm? Bento de Espinozaברוך שפינוזה, transl. Baruch Spinoza) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. (também Benedito Espinoza; em hebraico:
Além disso, vale a pena saber o que um filósofo clássico, Leibniz, pensava acerca de nossa responsabilidade sobre nossos atos.
Leibniz |
E como ficam essa responsabilidade e nossa liberdade depois que Freud descobriu outro ser dentro de nós mesmos, o inconsciente? Você também encontrará interrogações sobre o ensino de Filosofia, esporemos alguns detalhes sobre a história da filosofia nos artigos elaborados pelo professor Carlos P. Macedo. Meus alunos, outros alunos, internautas e interessados na filosofia, conhecerá os trabalhos do Laboratório de Estudos da Intolerância, da violência, do amor, do sentimento, da atual situação caótica do mundo, de onde viemos para onde vamos, e muito mais. Claro, não poderia faltar aquela que é a pergunta mais comum quando se fala em Filosofia: afinal, para que ela serve?
Leibniz |
Perguntar sobre a utilidade das coisas é uma mania de nossa cultura. No caso em questão, a resposta pode surpreender.
Fique tranqüilo porque tenho a intenção de responder o mais honestamente a essa questão paciência. É que, para dizer para que serve afilosofia, precisamos usar a filosofia, e sem a tal paciência isso dificilmente ocorre. Queria, antes, que você pensasse comigo a respeito da seguinte questão: o que é uma coisa quando ela serve para algo? Um martelo é um instrumento usado na fixação de pregos.
FILOSOFIA |
Uma auto-estrada é um meio pelo qual pessoas e mercadorias podem se locomover numa cidade ou entre cidades. Quando, portanto, perguntamos para que serve a filosofia, temos uma série de noções guardadas em silêncio a respeito dela e do mundo. Acontece que, se essas noções são corretas na maioria dos casos, talvez não sejam no que se refere à filosofia. Talvez exatamente por isso é que não encontramos com facilidade a resposta certa para a bendita pergunta. E que noções são essas?
Quando perguntamos para que serve a filosofia supomos que ela seja um instrumento, como um martelo, ou que seja um meio, como a auto-estrada. Sabemos que sem o martelo o marceneiro pouco pode fazer em seu trabalho.
FILOSOFIA DA ESTRADA |
Do mesmo modo, sem auto-estradas a cidade se tornaria um caos. Dizemos, então, que o martelo é importante para o serviço de marcenaria. Que a auto-estrada é importante para a ordem urbana e o progresso do país. Guardamos em silêncio, portanto, a idéia de que a importância de algo se mede por sua utilidade. Por isso não perguntamos, simplesmente, qual a importância da filosofia. Cortamos o caminho e ganhamos tempo indagando logo para que serve, qual sua utilidade. O erro que há nisso é pensar que a filosofia possa mesmo servir...
Então não serve? Vamos com calma. As perguntas que fazemos nunca nascem do nada, não estão prontas desde toda a eternidade. Por isso, jamais são tão inocentes quanto, por vezes, parecem. Perguntas são modos de falar. Falar é um modo de relacionar-se com o mundo. É porque vivemos desta e não de outra maneira porque fazemos essa e não outra pergunta. Poderíamos até contar a história de todos os povos a partir do recenseamento das questões que eles se colocaram.
Auto-estrada e a filosofia |
história, decerto, é o conjunto das providências tomadas pelos homens para atender às suas necessidades. Mas a história é também o conjunto das invenções de novas necessidades. Houve um momento em que as pedras já não mais satisfaziam todo o interesse de quem escrevia, e então alguém se perguntou se não seria possível escrever sobre outras superfícies. Essa pergunta, note, não teria cabimento se já não estivéssemos dentro de uma forma de vida da qual fazia parte o ofício de escrever. Assim, vale a pena nos indagar sobre que forma de vida é essa nossa que nos faz julgar necessária a pergunta "para que serve a filosofia?"
CULTURA UTILITÁRIA
Seria o caso de perguntar por que, diante de algo que não conhecemos ou conhecemos pouco, pensamos que saberíamos mais se soubéssemos para que serve esta coisa? Se não estou enganado, isso ocorre porque vivemos numa civilização na qual o conhecimento é produzido de modo a privilegiar sua utilização.
Se na física, por exemplo, os conhecimentos são produzidos em condições que, de uma maneira ou de outra, acabam tendo uma utilidade prática, então é lícito questionar para que servem os conhecimentos produzidos pela filosofia se é que se pode chamar de conhecimento o que ela produz! Mas será que pensamos desse modo de uma hora para outra? Qual o processo histórico que nos ensina que é assim que devemos pensar?
O processo histórico que nos deixou na situação de olhar para algo sempre em vista de saber sua utilidade foi produzido sob certa noção de racionalidade. A racionalidade é o modo como traçamos a relação entre nossa inteligência e o mundo. Julgamos que seríamos tanto mais o inteligente quanto mais dominássemos as forças da natureza.
Sob esse pretexto, esse empreendimento se tornou, ao longo do tempo, a forma mais cruel de depredação. Pensar era, nesse contexto, tomar providências para tirar o máximo de proveito dos recursos naturais, sem a menor preocupação em sarar as feridas que essa extração provocava no meio ambiente. Uma delas é o superaquecimento da Terra, uma ameaça que põe em risco o futuro da humanidade.
Mas não é só. Como alguém já disse, a primeira coisa que o homem tocou para dominar foi à mulher. Ou seja, seu semelhante. E quando pensamos que a busca da dominação do meio externo exacerba-se na dominação da natureza interna do homem (seu SER), logo começamos a entender eventos comuns em nossos dias, como a violência, . Eventos que atrapalham a possibilidade de uma forma de vida passível de ser chamada de feliz. A felicidade ultrapassa toda noção de utilidade porque é um bem em si: ninguém quer ser feliz para outra coisa, ser feliz não serve para alcançar algo mais além. Mas a cultura utilitária de nossa civilização deturpa a idéia de felicidade, e nos faz pensar que seremos tanto mais felizes quanto mais soubermos utilizar as pessoas, como o primeiro homem utilizou a mulher, e os filhos e os mais fracos, para destruir a natureza e a nós mesmos depois.
EXERCÍCIO DE LIBERDADE
É, pois, porque vivemos numa civilização das vantagens (sobre a infelicidade alheia) que somos levados a perguntar para que serve isso e aquilo e também a filosofia.
Jogaremos fora, então, a pergunta? Diremos, então, que a filosofia tem a ver, como tem, com certo exercício de liberdade? Que a filosofia, toda vez que serve, deixa de ser filosofia, porque abandona sua liberdade? Que, neste sentido, a filosofia não serve a ninguém nem a nada? Diremos que a filosofia é uma forma de felicidade? É possível.
Mas o leitor que chegou até aqui está longe de ser tolo, e pode perfeitamente retrucar: não perguntei a quem serve a filosofia, ou a quê, mas o que posso fazer com ela e, se não posso fazer nada com ela, o que ela pode fazer comigo.
Digamos, então, que a filosofia, como exercício de liberdade, pode nos ajudar a nos livrar de saberes preconcebidos, aceitos sem questionamentos, e que, exatamente por não terem sido discutidos, impedem a possibilidade de nos relacionarmos de uma forma diferente com o mundo.
Assim concebida, a filosofia não é bem um saber que possamos utilizar aqui ou ali. É, isto sim, um fazer (uma forma de pensar) que nos ajuda a escolher que saberes podem (para o bem ou para o mal) utilizar, seja em que circunstância for. Se, ainda assim, você quiser pensar na filosofia como um instrumento, digamos que ela seria uma espécie de "desconfiômetro", uma peça de nossa inteligência utilizada para não engolirmos a primeira certeza que nos oferecerem como sendo uma verdade indiscutível. Serve, por exemplo, para nos estimular a suspeitar de que a importância de algo está em sua utilidade, e assim descobrirmos que é porque não é útil que a filosofia é importante.
Quando aprendemos a pensar para além do modo como nos ensinaram que seria o certo, quando duvidamos de nossas certezas absolutas, quando não abrimos mão de nossa liberdade e quando indagamos se isso que chamamos "nossa liberdade" é mesmo uma liberdade pode ficar em alerta porque estamos pondo para funcionar o desconfiômetro da filosofia. Estamos começando a filosofar.
É isso e muito mais que você, leitor, descobrirá neste blog feito pra você. Esperamos que você leia, sugira, escreva. Mas, sobretudo, desejamos que tudo o que está publicado lhe sirva de inspiração para novas indagações e questionamentos. Ou seja, para a vivência da Filosofia.
Um abraço, O FILÓSOFO