sábado, 27 de outubro de 2012

ÉTICA A NICÔMACO






A ÉTICA ARISTOTÉLICA

DADOS BIBLIOGRÁFICOS DO AUTOR

Aristóteles nasceu em Estagiara, Macedônia, na costa nordeste da península da Calcídia em 384 a.C. Era filho do medico Nicômaco, da corte do Rei Amintas II, pai de Felipe da Macedônia. Em 367 a.C., com 17 anos, dirigiu-se para Atenas, pois na época era para esta cidade que os jovens procuravam ir para terem uma boa formação. Lá ingressou na academia de Platão. Ingressou na Academia de Platão e estudou ali até o ano de 348 a.C., data da morte do mestre Platão.

Assim, Aristóteles parte para Assos, e lá funda um pequeno círculo filosófico. Após três anos parte para Mitilene, onde realiza a maior parte de suas investigações biológicas. Em 343 a.C. é chamado para ser professor de Alexandre Magno, exercendo essa função até 336, quando Alexandre torna-se rei.

No ano de 342 a.C. Aristóteles foi encarregado da educação de Alexandre, filho do rei da Macedônia, que estava com 13 anos. No ano de 336 Alexandre sucedeu seu pai no reinado e iniciou suas conquistas. A relação entre mestre e discípulo mostrar-se-ia estável, pois o rei Alexandre enviou a Aristóteles material para estudo e ajuda financeira.

Depois que terminou a educação do Rei Alexandre, Aristóteles voltou a Atenas e iniciou uma escola nas proximidades de um templo dedicado ao deus Apolo; por isso ela recebeu o nome de Liceu.

Na organização da escola, havia disciplinas esotéricas, para seus discípulos pela manhã e à tarde para o público mais amplo. Sua escola era chamada de Perípatos (ensinava-se caminhando, em passeios) e, seus seguidores, denominados “peripatéticos”, pois as aulas eram administradas durante um passeio realizado pelo mestre e seus discípulos. No Liceu, valorizavam-se as ciências naturais. Aristóteles escreveu sobre política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e biologia.

Com a morte do Rei Alexandre, aumentou, em Atenas, a rivalidade contra Aristóteles, que foi acusado de favorecer o Rei Macedônico – por ter sido o mestre do grande soberano. Para fugir de seus inimigos, refugiou-se em Calsis, onde possuía bens imóveis maternos, deixando Teofastro na direção da escola peripatética. Retirou-se de Atenas dizendo que ‘não queria que os atenienses pecassem pela segunda vez contra a filosofia’, relembrando a morte de Sócrates. Sua morte viria no ano seguinte, em 322 a.C.

Aristóteles é considerado o maior metafísico e lógico de todos os tempos. Valorizava a educação como forma de crescimento intelectual ("A educação tem raízes amargas, mas os frutos são doces". Aristóteles).

Aristóteles foi o primeiro pesquisador científico.  O pensamento aristotélico tomou um rumo diferente do de Platão, pois ele apoiou-se no espírito de observação, próprio das ciências em sentido empírico. Também se preocupou em estudar muitas obras anteriores, prova disso, são as varias citações feitas de obras anteriores no seu livro. Compreendeu a necessidade de integrar o pensamento anterior a sua própria pesquisa Tratou-se de conceituação de palavras e termos num sentido amplo, aprofundado.

As principais obras de Aristóteles são: Lógica: Categorias, Da interpretação, Primeiro e segundo analíticos, Tópicos, Refutações dos sofistas; Filosofia da Natureza: Física; Psicologia e antropologia: Sobre a alma, além de um conjunto de pequenos tratados físicos; Zoologia: Sobre a história dos animais; Metafísica: Metafísica; Ética: Ética a Nicômaco, Grande Ética, Ética a Eudemo; Política: Política, Economia; Retórica e poética: Retórica, Poética.

O dualismo platônico – o mundo da inteligência separado do mundo das coisas sensíveis – visava antes de tudo a salvar a ciência, estabelecendo a coerência necessária entre o conceito e seu objeto. O realismo de Aristóteles procura restabelecer essa coerência sem abandonar o mundo sensível: explora a experiência, e nela mesma insere o dualismo entre o inteligível e o sensível.
       
Lógica: Nos primeiros séculos da era cristã, os escritos lógicos de Aristóteles foram reunidos sob a denominação de Organom.
       
Metafísica: Sob esse título estão reunidos 14 livros de Aristóteles que tratam do ser no sentido mais amplo ou mais radical. Duas questões se destacam na metafísica aristotélica: a da unidade do ser e a da existência de essências separadas.
       
Ética e política: No dialogo perdido Da justiça já se anunciavam alguns dos temas expostos nos oito fragmentos reunidos por Andrônico sob o título de Política. Escritos ao longo de toda a vida de Aristóteles, são tudo o que resta da sua obra sobre o assunto. Foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do individuo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade.
       
Poética: Confere grande relevo a sua teoria da tragédia, que exerceu notável influência sobre o teatro desde a época do Renascimento.
       
Física e Ciências naturais: É a realidade sensível, na qual a idéia é inteiramente envolvida pela matéria. O físico deve possuir um acurado espírito de observação. A realidade natural, em seus aspectos mais gerais, é autônoma, contrapondo-se a espontaneidade acidental que exprime os efeitos inesperados que as coisas produzem em nos. 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Coleção a Obra-Prima de Cada Autor. Martin Claret. 2007. São Paulo.


ÉTICA A NICÔMACO

Esse livro intitulado como Ética a Nicômaco foi escrito por Aristóteles e dedicado a seu pai, chamado Nicômaco. Essa obra é composta por dez livros, no qual Aristóteles assume o papel de um pai preocupado com a educação e a felicidade de seu filho, mas não somente isso, mas também a intenção de fazer com que as pessoas reflitam sobre as suas ações e coloque a razão acima das paixões, buscando a felicidade individual e coletiva, pois o ser humano é um ser social e suas práticas devem visar o bem comum.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO I
AS ARTES, AS CIÊNCIAS E A FELICIDADE DO HOMEM

Aristóteles inicia o primeiro livro dizendo que toda arte e toda a investigação visam a um bem qualquer, fazendo com que todas as outras coisas direcionem-se também a ele. Muitas são as ações das artes e ciências, assim como suas finalidades, a procura delas, visa os seus fins. Ele cita como exemplo a medicina, o fim dela é a saúde e assim vai discorrer sobre várias outras apresentando que elas são procuradas em função da necessidade. Existe um bem o qual todas as ciências buscam em comum e o conhecimento deste é de fundamental importância sobre nossas vidas, o objeto do nosso estudo será determiná-lo em linhas gerais partindo da ciência política.

Para Aristóteles, a Ciência Política define o que é certo, o que deve ser estudado e o que deve ser ensinado. Isto se dá pelo fato dela utilizar-se das demais ciências, legislar sobre elas, abrangendo a finalidade de todas elas. A Ciência Política pode beneficiar indivíduos ou toda a sociedade. O benefício de interesse coletivo é o mais nobre e divino sobre todos. Em linhas mais gerais, a busca das ciências políticas pode ser a felicidade, o modo de viver e de perseguir os objetivos ao sabor da vida.

Definida vulgarmente, a busca das ciências políticas pode ser a felicidade, o bem viver, o ser rico ou ter saúde. Para alguns pensadores, este objeto seria um bem que, de tão grandioso, torna-se inacessível e por existir tão grandes divergências consideraremos os conceitos mais razoáveis. Platão questionava “Estamos no caminho que parte dos primeiros princípios ou estamos nos dirigindo a eles?” e para entrar nesta discussão avisamos desde já que deve ter sido educado nos bons hábitos e ser ouvinte, como dizia Hesiodo “Ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas, bom o que escuta os conselhos dos homens judiciosos, mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, este é em verdade um homem inteiramente inútil”. O fato é o principio, ou o ponto de partida, e se ele for suficientemente claro para o ouvinte, não haverá necessidade de explicar por que é assim; e o homem que já foi bem educado já conhece os princípios ou pode vir a conhecê-lo com facilidade.

Existem três modos de vida: o do homem inútil, o da vida política e o da vida contemplativa. Afirma, ainda, que a grande maioria dos homens se assemelha a escravos. A razão da vida dos homens inúteis, ignorantes, é a felicidade e que a honra é o bem da vida política, pois muitos a buscam incessantemente, talvez por quererem um reconhecimento de uma vida honesta.

Os bens estão divididos em duas classes: aqueles por si mesmos, buscados particularmente, e os que servem para proteger outros bens ou afastar seus opostos. Os bens não são uma espécie de elemento comum que corresponda a uma idéia única ou modo de busca único para todos. Eles se mostram diferentes nas diversas ciências e artes, sendo o
objetivo destas, pois é pela saúde do paciente que o médico busca a cura e quando esta é alcançada se faz o bem procurado. Esse bem universal e absoluto é a felicidade.

Aristóteles afirma que os bens que se relacionam com a alma são as ações e atividades psíquicas. Estes, por sua vez, são os bens no sentido mais verdadeiro da palavra. Pois, segundo o filósofo, o homem feliz vive bem, age bem. A não correspondência única de idéias faz com que o bem universal seja inatingível, deixando de ser o objeto de nossa busca, assim como este conjunto de bens, pois procuramos aquele que é o absoluto dos absolutos. Um bem buscado por ele mesmo e não por qualquer outra coisa, como a felicidade, pois a honra, o prazer, a razão, tudo é buscado ao fim dela, fazendo desta um bem absoluto, auto-suficiente e finalidade de todas as ações. Concluído isso temos um esboço do que procuramos. Há quem diga que o começo é mais que a metade do caminho, pois é mais fácil completar o que já está começado que iniciar um trabalho. O homem que não se compraz nas ações nobres não é um homem bom. Ninguém consideraria justo um homem que não sente prazer em fazer o bem. Portanto, segundo o filósofo, a felicidade é a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo. Ela é nossa busca e objetivo final.

Para Aristóteles, a felicidade não é facilmente alcançada sem outros bens (meios no qual se chega a ela). Dificilmente um homem que não tem amigos ou filhos, ou os tem e eles são perversos ou a morte levou os bons, alcançará a felicidade, que alcançada por acaso não é tão realizadora quanto aquela que foi intensamente procurada, diz o filósofo. Um homem feliz é aquele que foi feliz durante a vida até nos momentos mais difíceis, aquele que agiu com moral e nobreza. O homem feliz é aquele que consideramos que foi feliz durante a vida e até nos momentos mais difíceis agiu com moral e nobreza. Aristóteles conclui que; a felicidade é uma virtude e, portanto, para entender aquela devemos estudar esta.

 
ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO II
A VIRTUDE MORAL – COMO PODE SER ADQUIRIDA

A virtude intelectual é adquirida com o tempo, ao passo que a virtude moral é adquirida pelo hábito. Pois Segundo ele, a natureza não nos dá virtudes, mas sim a capacidade de recebê-las e esta se aperfeiçoa pelo hábito, assim como as demais coisas que nos vem por natureza, primeiro recebemos a potência e depois cumprimos a atividade, nos tornamos justos praticando a justiça.Um exemplo de como isso acontece é o das cidades-estados, onde os legisladores tornam a população honesta impondo leis que dizem que se deve agir de uma maneira justa e honesta. Da mesma forma, uma cidade transforma-se numa cidade ruim sendo regida pelas regras injustas. Da mesma forma que geramos a virtude a destruímos. Por toda esta importância é que devemos estudar os atos, pois eles constituem a virtude pelo hábito. Quanto mais praticarmos a justiça mais justos nos tornaremos; quanto mais enfrentamos nossos medos mais nos tornamos corajosos e quanto mais nos tornamos corajosos mais temos a capacidade de enfrentar nossos medos. 

Para Aristóteles, o prazer e a dor estão ligados com a virtude dos atos. O homem que enfrenta seus medos e se alegra com isso é corajoso e o homem que o faz, mas sente-se aborrecido ou sofre com isso é um covarde. Fazemos as coisas certas pelo fato de que estas nos dão prazer e deixamos de fazer as coisas erradas pelo fato de nos trazer dor ou mesmo por não nos dar prazer. Para Aristóteles, as ações são ditas justas e temperadas quando são equivalentes às de um homem com estas qualidades. Mas isto não significa que aquele que as praticou tenha estas qualidades. Significa apenas que as praticou deste modo, o que faz parte do caminho para chegar a ter tais virtudes, pois pela prática de atos justos se faz um homem justo e pela prática de atos temperantes se faz um homem temperante. Sem a prática de tais atos jamais um homem se tornaria justo e temperante.

Quanto à virtude, ela é uma disposição, pois não somos julgados por elas, mas sim consideram-nos por termos disposição a uma determinada virtude. Ela é responsável a dar excelência aos nossos atos. O excesso e a falta destroem as boas obras de arte, por isso o artista sempre deve buscar o meio termo, assim também é em relação à virtude moral, onde as paixões e ações precisam deste. Segundo Aristóteles, ela é responsável a dar excelência aos nossos atos. O excesso e a falta destroem as boas obras de arte, por isso o artista sempre deve buscar o meio termo. A virtude é o meio termo entre dois vícios: o excesso e a falta. Mas, o meio termo é relativo. A cada situação tem-se um diferente. O que para uma pessoa pode ser em excesso para outra pode ser falta.

Portanto a virtude é mediana, pois busca o meio termo, que é relativo, pois a cada situação tem-se um diferente, o que pra uma pode ser em excesso para outro pode ser falta, deve-se analisar o momento.

As ações erradas, como o adultério, o roubo o assassinato, são sempre más, nelas não existe nem falta, nem excesso, nem meio termo, sempre, em qualquer situação são desprezíveis. Diz Aristóteles, alcançar o meio termo, assim como alcançar o centro de uma circunferência não é pra qualquer pessoa, mas para a que sabe agir em relação à medida, ocasião, motivo e maneira que convém. E por ser tão difícil chegar neste meio termo e tão fácil se desviar dele devemos sempre nos distanciar de um extremo, caminhando em direção ao outro, nos aproximando da atitude mediana. Não censuramos o homem que se desvia um pouco demais ou de menos, mas somente aquele que se desvia consideravelmente, pois esta não passa despercebida.

 
ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO III
A VIRTUDE – ATOS VOLUNTÁRIOS E INVOLUNTÁRIOS - A CORAGEM – A TEMPERANÇA

Aristóteles inicia o terceiro livro voltando a fazer novas considerações à virtude afirmando que, as ações e as paixões, são de natureza voluntária ou involuntária, e após esta distinção nosso julgamento sobre os atos devem mudar, pois as ações involuntárias são dignas de perdão e até compaixão, pois são realizadas por ignorância, sob compulsão ou até mesmo pressão, deixando bem claro a diferença entre “na ignorância” e “por ignorância”, pois um homem bêbado age na ignorância e não pro ser ignorante, o que o difere daquele que age involuntariamente é o peso na consciência, a intenção, e o que age voluntariamente tem plena consciência do que vai fazer, mesmo nos momentos de cólera, pois se considerássemos estes momentos como de inconsciência nenhum dos animais ou crianças agiriam por vontade própria, e as ações irracionais das paixões são tão humanas quanto a racionalidade e portanto não podem ser consideradas involuntárias.

Depois de definido voluntário e involuntário, Aristóteles passa a discutir sobre a escolha, pois os animais e crianças praticam atos voluntários, mas não os escolhem, assim como o homem em cólera, fora deste momento nós sempre escolhemos nossas atitudes, e a escolha é aquilo eleito de preferência a outras coisas.

Quanto às deliberações, não deliberamos sobre os fins, mas sobre os meios. Um médico não delibera se deve ou não curar um paciente, mas sim como deve fazê-lo, assim, clamamos por ajuda, discutimos e pedimos a opinião de terceiros porque não confiamos na nossa capacidade de decidir. Os bens são aquilo sobre o que nos deliberamos e escolhemos, e os fins aquilo que cada um deseja.

Concluindo, depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, assim como depende de nós sermos virtuosos ou viciosos. Ninguém recrimina um cego de nascença ou aquele que o é por causa de um acidente ou doença, mas sim aquele que o é pela bebedeira, pois foi de forma consciente que ele escolheu tal caminho, da mesma forma agimos quanto à ignorância ou maldade alheia. O homem é o pai de sua própria vontade!

Ao falar um pouco de coragem, Aristóteles afirma, como já definimos, é o meio termo entre o medo, que é a expectativa do mal, e a temeridade, ou “tudo posso”. O que se deve temer? Alguns temem a desonra, o que é louvável, pois aqueles que não a temem tornam-se desavergonhados. A idéia é que algumas coisas devem ser temidas, e só o homem que enfrenta estes mal é realmente corajoso, temos que ver ainda, que coragem é um adjetivo relativo, pois o covarde para guerra pode ser corajoso enquanto negociante. Sem dúvida alguma, a morte é o maior dos medos e aquele que a enfrenta em nome da honra é o mais corajoso e digno desta.

“Coragem é nobre, portanto seu fim é nobre, pois cada coisa é definida por seu fim, assim conclui Aristóteles que é com uma finalidade nobre que um homem corajoso age e resiste conforme lhe apronta a coragem. Porém, morrer para fugir da pobreza, ao amor, ou a qualquer coisa dolorosa, não é próprio de um homem corajoso, mas sim de um covarde, pois é fraqueza fugir do que nos atormenta, e um homem desta espécie enfrenta a morte não por ela ser nobre, mas para escapar de um mal.”

De acordo com Aristóteles, não são corajosos também os otimistas, que só lutam por estarem vencendo com freqüência, ou os ignorantes, pois estes assim que tomam o conhecimento da realidade fogem dela. E por enfrentarem o que é penoso que os homens são chamados de corajosos, pois a coragem envolve o que é penoso, pois é mais difícil enfrentar o penoso do que abster – se do agradável.

Na seqüência Aristóteles fala sobre a temperança afirmando que é o meio termo das paixões e prazeres. Podemos fazer a distinção de prazeres do corpo e da alma (como a honra). A temperança se relaciona com os prazeres do corpo, mas não com todos, pois não são chamados de intemperantes aqueles que vêem cores demais ou ouvem músicas demais. A intemperança nos domina não como homens mais como animais. Os intemperantes excedem, não só no prazer, mas também no sofrimento, como o homem que sofre demasiadamente por uma perda se torna inconveniente. A intemperança é uma disposição mais voluntária que a covardia, pois é motivada pelo prazer e a outra pelo medo. O homem temperante deseja as coisas como se deve desejar e no momento em que se deve fazê-lo, como determina o principio racional.

Professor de Filosofia
ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO IV
O LIBERALISMO – HONRA – CALMO – VERDADE – LAZER – VERGONHA

Para Aristóteles, o homem liberal sabe discernir as pessoas as quais convém ajudar, quem faz menos ou mais do que deve ser feito apresenta deficiência ou excesso (pródigo e avaro respectivamente). Mas aquele que além de equilíbrio ainda usa a riqueza com bom gosto e grandiosidade, tendo em vista obras duradouras e magnificentes, e aquele que o excede é extravagante e o que se opõe a ele é mesquinho. Tanto o liberal quanto o magnânimo tem em vista a honra, sabem o que é honroso e desfrutam com equilíbrio dos benefícios, mas o que a ambiciona demais é ambicioso e o que se abster de desfrutá-la é desambicioso.

A magnificência é semelhante ao liberalismo, pois consiste nos gastos astronômicos, mas na dose certa, com o objetivo certo, portanto todo homem magnificente é liberal, mas nem todo homem liberal é magnificente, depende da quantia. O homem magnificente não deve gastar demais em coisas erradas, ele sabe gastar as quantias grandes em nome da honra, de forma certa, com bom gosto, e assim como o gasto seu resultado também deve ser grandioso. O homem magnificente deve gastar, porém, dentro de seu orçamento, pois o homem pobre que tenta se tornar magnificente sem ter, no entanto, o suficiente para isso é tolo. Os mesquinhos são aqueles que em tudo que fazem verificam e reverificam o quanto devem gastar e sempre acham que estão gastando demais, acabam estragando um belo banquete por economizar palitos de dente, mas eles não são ofensivos as outras pessoas e por isso não são repreensíveis.

Para Aristóteles a honra também tem seu meio termo, não se deve desejá-la demasiadamente que se viva exclusivamente para isso nem desprezá-la ao ponto de torná-la irrelevante, o seu meio termo não tem uma definição própria, mas seus extremos agem sempre como se ele não existisse.

Aristóteles diz que a calma é o meio termo da cólera, ela tende ao excesso, que é indefinido, mas se assemelha como a pacatez. O homem que entra em cólera com as pessoas certas e nas horas certas é calmo, (vingar-se é humano), aqueles que entram em cólera por qualquer motivo se tornam arrogantes e os pacatos demais, que não entram em cólera por nada deste mundo, são tidos como tolos.

A verdade é um equilíbrio entre o que é jactancioso (ostentação, vaidade), e a deficiência da falsa modéstia. O espirituoso é o meio-termo entre o chocarreiro (faz chiste de tudo sem poupar a nada e a ninguém), e o rústico (que a tudo censura).

O lazer também faz parte da vida, como o falar e o ouvir, e o homem jocoso em excesso ou seja, aquele que provoca riso sem levar em conta a conveniência do que diz, é considerado vulgar, enquanto aquele que não sabe ser engraçado e não suporta os que são, é rústico e grosseiro e aqueles que gracejam com medida são espirituosos.

Para Aristóteles a vergonha é virtude para os jovens, que por serem jovens tem direito de errar e se envergonhar por isso é boa coisa. Para a maturidade o homem bom não deve cometer erros vergonhosos, o que os comete é o homem mau. Um homem bom jamais cometeria atitudes más voluntariamente, o despudor também é repreensível, pois não se envergonhar dos maus atos praticados é ruim.


 
ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO V
A JUSTIÇA E A INJUSTIÇA

Aristóteles inicia este livro falando da justiça e injustiça. Devemos indagar com que espécie de ações elas se relacionam, que espécie de meio termo é a justiça. Para ele, o homem justo é conhecido por praticar atos justos e o injusto, é conhecido por praticar atos injustos. Segundo Aristóteles, a justiça é a virtude completa, ela resume todas as virtudes, pois é o exercício delas. Do mesmo modo a injustiça é o vício inteiro, porém, o homem ganancioso, na maioria das vezes, não mostra seus vícios, mas sem dúvida tem uma dose de maldade e por isso deve ser repreendido com veemência. Para o filósofo, o homem que comete adultério e com isso pretende ganhar algum dinheiro é pior que aquele que o faz por vontade carnal e sofre perdas por isso. Temos dois tipos de justiça, a geral e a particular, sendo a justiça particular diferente do vício completo, e assim também é com a justiça, pois ela tem seu lado particular, que difere do bem completo. A justiça deve ser proporcional e o injusto é o que viola a proporção. Uma espécie de justiça é a corretiva, pois para ela é indiferente, não importa se um homem bom lesou um homem mau, ou se o contrário aconteceu, pois o juiz perguntará quem lesou e quem foi lesado, tentando trazer equilíbrio ao caso, trazendo prejuízo para o que teve “ganho” na ação, ressarcindo, de certa forma, a vítima que “perdeu” ao ser ferida ou roubada. Para isso é que serve a função do juiz, para equilibrar. 

A justiça corretiva, da qual o juiz faz uso, serve para trazer este equilíbrio, o igual. Aristóteles entende que a justiça não deve privilegiar ninguém, mas deve ser recíproca, e a base do relacionamento humano está aí, pois, segundo ele, os homens buscam se igualar para ser manter unidos. Como exemplo; pensemos em um arquiteto que fez uma casa e um sapateiro que fez um par de sapatos. Se trocarem seus feito não estarão iguais, por isso, diz Aristóteles, deve-se ter uma justiça igualitária, para que a igualdade seja alcançada e ninguém saia perdendo. Num outro exemplo; um médico não procura outro médico, mas se associa a um agricultor, pois necessitamos de coisas desiguais para viver. 

Segundo o filósofo, esta foi à razão pela qual se instituiu o dinheiro, pois todos os bens devem ser igualados de alguma forma, para que o trabalho de um não valha mais do que o de outro. Segundo Aristóteles, a injustiça é o excesso e a falta. Ter muito pouco é ser sua vítima e ter demais é agir injustamente. Porém, nem todos os que agem injustamente são injustos, um homem que comete adultério pode até saber quem é a mulher com a qual deita, mas não faz isso em nome do pecado, mas pela paixão. Dessa forma, ele cometeu uma injustiça, mas não é injusto. Este exemplo se aplica aos demais casos também.

A justiça existe apenas entre homens cujas relações são regidas pela lei, e esta (a lei) só existe entre os quais injustiças podem ocorrer. Existe uma justiça por natureza (que é igual em todos os lugares e imutável com o tempo) e outra existente só por convenção (que difere de acordo com a região, e o costume muda).

O homem deve agir voluntariamente, de forma que, se seu ato não foi voluntário, foi coagido, cometidos na ignorância, sem sua escolha,  (por exemplo, quando um homem está bêbado e comete algum erro sem pensar sobre seus atos, o ato é injusto, não o homem) ou em cólera, não pode ser considerado justo ou injusto, mas sim infortúnios.

Quanto à eqüidade, que é a disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um, ela não é idêntica à justiça, mas superior a esta. O papel do homem eqüitativo é o instrumento de correção de uma lei quando esta é deficiente e não prevê algum caso particular, o eqüitativo não é superior a lei natural, mas a compreende e sabe aplicá-la no sentido específico. Algumas leis não podem ser específicas, e esta é a razão deles. A justiça eqüitativa surge da necessidade da generalidade da lei. Ela deve cumprir com o papel de “tratar igual os iguais e desigual os desiguais”.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO VI
AS VIRTUDES DA ALMA – A ARTE, O CONHECIMENTO CIENTIFICO, A SABEDORIA PRÁTICA, FILOSÓFICA E A RAZÃO INTUITIVA

Aristóteles inicia o sexto livro falando das virtudes da alma, que é formada por três elementos que controlam a ação e a verdade: a sensação, a razão e o desejo. A origem da ação é a escolha e a origem desta é o desejo e o raciocínio dirigido a algum fim, por isso a escolha não pode existir sem a razão e o intelecto, nem sem a moral, pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de intelecto e de caráter. Porém o intelecto não move nada então é necessário que exista o intelecto prático, que vise a algum fim.

Segundo Aristóteles, são cinco as virtudes pelas quais a alma possui a verdade: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a intuição ou razão intuitiva. O conhecimento científico é a convicção de um homem, a qual chegou este de uma maneira conhecida por ele desde os pontos de partida até as conclusões, seu conhecimento puro é tido de maneira acidental.

Um homem sem virtude não se torna bom apenas por conseguir estas sabedorias com o tempo se não as usasse, o fato é que elas trazem complemento à vida; fazem parte da felicidade deixam nos cientes daquilo que acontece e daquilo que vivemos, elas não nos tornam virtuosos e bons, mas nos dão instrumentos para decidirmos se o queremos ser. As disposições das virtudes, com as quais todos nascem de nada adiantariam sem a razão, do mesmo modo que um corpo forte poderia cair ao chão sem a visão, por isso a razão é indispensável para a formação das virtudes em nós. Estas então quando praticadas e estimuladas implicam em sabedoria prática.

Para ele, toda arte é relacionada com a criação, invenção, no estudo das maneiras desta produção, de coisas que existem ou ainda não. Diz Aristóteles que “a arte e o acaso visam sobre os mesmos objetos”. Segundo ele, a sabedoria prática consiste na capacidade de raciocinar e agir naquilo tocante ao bem e ao mau para os homens. Esta se difere da arte por ser a arte excelente na sua elaboração e não em sua ação. Para Aristóteles, a sabedoria prática é a capacidade verdadeira e de raciocínio de agir no que se refere às ações humanas. Diz ele que, o conhecimento científico é o juízo acerca de coisas universais e necessárias. E, tanto suas conclusões quanto as demonstrações são derivadas dos primeiros princípios. Para Aristóteles, consideramos um homem sábio não somente em um campo particular, mas em âmbito geral, pois, segundo ele, a sabedoria deve ser a mais perfeita forma de conhecimento. A sabedoria deve ser a combinação entre a razão intuitiva e o conhecimento científico.

A sabedoria prática possui um campo gigantesco, ela envolve tudo sobre o que o homem pode deliberar e visa como agir, ela necessita de experiência por isso não se pode ser jovem e sábio, já a sabedoria filosófica não visa à ação, mas o estudo é necessário ter ambas, pois uma completa a outra.

A sabedoria política e a prática correspondem à mesma disposição da alma, mas são diferentes, pois a política relaciona–se com a ação na cidade e a prática com o indivíduo e ele mesmo.

Investigações e deliberações são diferentes, pois esta última refere-se na investigação de algo em particular e implica o raciocínio, a deliberação excelente é aquela que tende a alcançar o bem, um bom deliberador normalmente é também dotado de sabedoria prática, pois deve agir naquilo que delibera pra alcançar o bem.

A inteligência também difere da sabedoria prática, posto que esta se encarrega de agir em suas deliberações e a inteligência se ocupa em julgar. A inteligência, segundo ele, não consiste em ter sabedoria prática, mas em aprender, no exercício da arte de conhecer, no opinar, ela é idêntica a perspicácia. O homem perspicaz é observador e sagaz.

O discernimento é o julgar segundo a verdade, e a ele converge: inteligência, sabedoria prática, razão intuitiva. As pessoas dotadas destes atributos são portadoras de discernimento. O discernimento vem com o tempo.

As sabedorias não nos tornam virtuosos e bons, mas nos dão instrumentos para decidirmos o queremos ser: se virtuosos ou viciosos. As disposições das virtudes, com as quais todos nascem; de nada adiantariam sem a razão. A razão é indispensável para a formação das virtudes em nós. Estas, quando praticadas e estimuladas, implicam em sabedoria prática. E, quanto mais praticamos mais virtuosos nos tornamos.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO VII
DISPOSIÇÕES MORAIS A SEREM EVITADAS: VICIO INCONTINÊNCIA E BESTIALIDADE

Aristóteles inicia o seu sétimo livro falando sobre outras três espécies de disposições morais que precisam se evitadas, o vício, a incontinência e a bestialidade. Suas disposições contrárias são respectivamente a virtude, a continência e uma espécie de habilidade heróica, sobre humana, divinificada, sendo esta última rara de encontrar. A incontinência ou frouxidão é dada ao homem que age mal segundo suas paixões, mesmo que consciente de seus atos. A contingência se resume a manter suas idéias sobre todas as coisas. Pode se tornar uma coisa ruim no caso de não se querer abandonar uma idéia má, sendo a incontinência neste caso uma coisa boa, fazendo-o a abandonar.

Além desta visão dizemos que o incontinente é aquele que tem o conhecimento, mas não o usa. Os incontinentes são semelhantes aos homens adormecidos e embriagados quem não escolhem o que fazem no momento, ou aqueles que procuram os prazeres da carne por demais, mas ninguém é incontinente em absoluto, porém algumas pessoas são demasiadamente que as chamamos assim, estes, por serem impulsionados por seus desejos podemos compará-los e equipara-los aos intemperantes. Todo homem busca os prazeres da vida e foge dos desprazeres, mas somente quem o faz com excessividade pode ser considerado assim, mesmo que seja em apenas uma área de sua vida, assim como consideramos um mau ator, ele não é mau como homem completo, mas apenas em sua representação.

A incontinência, assim como a bestialidade, pode vir da natureza, pelo hábito ou por problemas, doenças e dificuldades, como um estuprador que quando criança sofreu maus tratos e por isso quando adulto cometeu estes pecados. Todas as bestialidades e incontinências vêm da deficiência moral, e a incontinência brutal, bestial e aquilo que é excessivamente demais não é simplesmente incontinência, mas supera este conceito.

A incontinência pelo apetite é mais reprovável do que pela cólera, pois se dá pelo impulso, não é colocada sobre a razão ou ao julgo do raciocínio ao ser praticado. Já pela cólera, como quando um insulto nos é dado este vai ao raciocínio e antes mesmo de terminá-lo nos premeditamos e concluímos que é preciso revidar, ela, com sua natureza ardente e impetuosa, ouve, mas não escuta a razão. Por isso a cólera é menos reprovável que o apetite, pois é levada pelo raciocínio enquanto o outro sequer isso faz. Embora perdoemos com mais facilidade os erros cometidos em razão do apetite este é reprovável também por especular, dá a nós, com o tempo a malícia de buscar o que queremos mesmo que por meios errados, já a cólera não, está é sincera e momentânea.

Quanto aos prazeres, dores, apetites e aversões, a maioria das pessoas é mediana quanto a estes sentimentos, e as outras tendem mais aos seus extremos. Alguns prazeres são necessários, outros não, seus extremos nunca, e o homem que busca a estes é vicioso. Um homem que fere outro sem estar em cólera é mais recriminado que aquele que o faz em tal situação, pois o que faria o primeiro quando encolerado? Por isso a intemperança se faz pior do que a incontinência. O intemperante é incurável, pois nunca se arrepende do caminho o qual escolhe. Já o incontinente é curável, pois este é capaz de se arrepender. A intemperança e o vício diferem–se, pois o viciado não tem conhecimento de si e o incontinente tem.

O prazer também é estudado por Aristóteles. Existem sobre ele três visões; a primeira defende que o prazer, absolutamente, não é um bem, pois eles são evitados pelas pessoas temperantes, as sábias buscam o que é isento de sofrimento, não a ele, que é um obstáculo ao pensamento, pois quando em seus braços um homem não consegue concentrar–se em nada. Uma segunda visão defende que nem todos os prazeres são bons, pois existem prazeres que são ignóbeis e censuráveis e há aqueles que prejudicam a nós e fazem mal à saúde. Há ainda uma terceira visão dizendo que o prazer não é o bem supremo, pois não é um fim, mas sim um processo, discordando de todas estas visões. Segundo Aristóteles o prazer pode ser o bem supremo, pois é a busca comum entre os animais irracionais as crianças e os homens.

Em relação aos prazeres do corpo, existem aqueles que são nobres, muito desejados, e os vis, que se relacionam com os intemperantes. O homem que busca os excessos do prazer se torna mal, pois acaba por não buscar os prazeres necessários a todos os homens. A causa dos prazeres da carne se tornarem mais desejáveis é que afastam o sofrimento. Pelos homens sofrerem muito busca os prazeres da carne em excesso para compensar.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO VIII
AMIZADE

Aristóteles entende que a amizade é uma virtude, ou implica em uma, que é necessária à vida tanto dos mais ricos, pois de que adiantaria toda a riqueza se não tivesse amigos para compartilhá-la, quanto maior a amizade mais nobre, pois para estes a amizade torna–se um refúgio.

A amizade ajuda aos jovens, fazendo–os evitar os erros e escolherem os caminhos certos, e aos mais velhos, nas atividades que declinam com o passar dos anos. A amizade liga os pais com os filhos, é observada também nos outros animais, ela é a força que mantém as cidades unidas, os legisladores são seus defensores, pois devem evitar o facciosismo, que faz com que as cidades se dissolvam. Pode–se dizer que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade. Além de necessária a amizade é nobre, pois louvamos os homens de muitos amigos, estes são considerados bons, porém existem vários debates relacionados com a amizade, há aqueles que dizem que só se é amigo de seus semelhantes, enquanto outros defendem que “dois do mesmo ofício não se entendem”.

Aristóteles define as espécies e graduações de amizades. A benevolência quando recíproca se torna amizade, e para serem amigas as pessoas devem conhecer uma à outra. As amizades não são acidentais, as pessoas são amadas por proporcionarem algum bem ou prazer e é por isso que as amizades e desfazem facilmente, pois quando uma das partes cessa de ser agradável ou útil a outra deixa de amá-la, este “útil” não é fixo, mas muda constantemente; este tipo de amizade é comum nos velhos, pois estes buscam o que podem lhes ser agradáveis, já nos jovens as amizades mais comuns são aquelas que proporcionam o prazer, pois estes buscam acima de tudo aquilo que é agradável e as coisas imediatas, mas com o passar do tempo seus prazeres mudam e estas amizades são substituídas rapidamente.

A amizade perfeita é aquela existente entre os homens bons e semelhantes nas suas virtudes, tais pessoas desejam o bem de modo igual, mutuamente, e suas virtudes raramente mudam por isso estas amizades são as mais duradouras, praticamente permanentes. Já que encontram um no outro todas as qualidades que os amigos devem possuir, amizades como estas são raras assim como homens assim também o são, além disso, estes tipos de amizade leva temem e intimidade.

Aristóteles afirma que a amizade é por interesse é mais rapidamente configurada e neste a afinidade não é elemento base, o homem mal pode se tronar amigo do bom e vice-versa, esta amizade é mais fraca, estes são menos amigos. Apenas a amizade entre os bons é invulnerável à calúnia, pois dificilmente desacreditamos de alguém que durante muito tempo foi posto à prova, pois ali está a confiança, diferentemente dos outros tipos de amizade. A distância não faz desaparecer a amizade, mas apenas sua atividade, no entanto a ausência durante um logo tempo faz com que as pessoas se esqueçam de suas amizades.

Existem amizades em que os envolvidos dão e recebem diferentemente, como a amizade de pai para filho, ou a de quem manda com a de quem obedece, ou a do marido para com sua esposa, esta não dá, o mesmo que recebe, pois tem uma visão diferente, porém o amor trocado é proporcional.

Igualdade e semelhança formam a amizade, e amigos se firmam assim, amando sem esperar ser amado da mesma maneira e intensidade, que depende do relacionamento que os amigos têm entre si, os deveres de um pai para com seu filho não são os mesmo de irmãos entre si. Da mesma forma a justiça tem intensidades, pois é mais grave ferir a um grande amigo do que um estranho, um filho a um desconhecido.

Há três formas de constituição de poder, igual em numero de desvios ou perversões: a monarquia, cuja perversão é a tirania, ambas são o governo de um homem só, mas há uma grande diferença, pois um rei, aquele que deve ser superior aos seus súditos em tudo, não necessita de mais nada, já é completo e por isso governa, para o bem de seu povo, sem visar vantagem própria. Ao contrario do tirano que visa unicamente o bem próprio, oposto à monarquia, melhor forma, a tirania é a pior forma de governo. Uma segunda forma de governar é a aristocracia, e seu desvio constitui a oligarquia, que pela maldade dos governantes que distribuem desigualmente os bens da cidade visando benefícios a si mesmos. A terceira forma é o que podemos chamar de timocracia, que seria uma espécie de governo baseado na posse de bens, chamado pela maioria de “governo do povo”. Sua degeneração é a democracia, que é a menos má forma de degeneração, pois apresenta um pequeno desvio, que é onde todos são iguais, o que é característico de um local sem governo ou com um chefe fraco onde todos agem conforme sua própria vontade. Todas estas constituições conservam a amizade e a justiça na dose certa, mas nas formas desviantes de governo quase não se pode dizer que a justiça exista, assim como a amizade, na tirania estas quase não existem mas na democracia, onde a igualdade está presente entre os cidadãos, elas estão presentes mais intensamente que naquela.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO IX
A AMIZADE II

Em seu nono livro Aristóteles fala das espécies de amizade. Diz ele que; na amizade entre o inferior e o superior surge um problema que a deixa esta ainda mais fraca, pois, quando uma das partes não recebe o que esperava ainda que seja a que receberia menos - a amizade se desfaz.

Segundo ele, deve-se retribuir certo para cada tipo de pessoa, pois antes de dar sustento para qualquer outro se deve cuidar dos pais, pois foram eles quem lhe sustentaram durante seu crescimento, assim sendo também conveniente convidando as pessoas certas para as ocasiões certas e dando as honras certas a aqueles que merecem na ocasião certa. Diz Aristóteles que; uma amizade que foi feita pelo interesse pode ser desfeita quando este acaba. E o amigo que se sentir prejudicado pelo fim desta deve culpar a si mesmo, pois escolheu basear sua amizade em algo volúvel. Quando uma das partes muda suas atitudes e passa a fazer o mal, seu amigo tem o direito de deixar a amizade, pois ninguém o irá censurar por isso. Porém, o bom amigo quando vê que seu companheiro tem recuperação, ajuda este a recuperar seu caráter. Um amigo que ultrapassa o outro na forma de pensar - situação que chega a ser comum quando se trata de amigos de infância - neste caso a amizade não precisa continuar, pois não existe “o comum” entre eles.

Para Aristóteles, a amizade dá-se pelo compartilhamento dos mesmos gostos, das mesmas coisas, das mesmas idéias. Mas, mesmo que a amizade tenha acabado devemos considerar a intimidade que tivemos outrora com aquela pessoa a quem antes se tomou por amigo, a não ser que o rompimento tenha sido causado pelo excesso da maldade. Assim como devemos tratar amigos diferentemente dos estranhos assim também devemos fazer no caso dos ex–amigos.

A benevolência é um elemento da relação amigável, mas não é a amizade. Podemos senti-la por uma pessoa sem que esta saiba disso, ou mesmo sem conhecê-la, o que não é possível ocorrer com a amizade, pois para esta é necessário intimidade. Mas, podemos dizer que a benevolência é um primeiro passo para que a amizade ocorra. A conformidade de opiniões também se assemelha com a amizade, mas não com todas, pois não podemos dizer que somente pelas pessoas terem a mesma opinião sobre qualquer assunto elas estão em conformidade, mas sim quando concordam no modo de agir. Portanto, ela está mais ligada com uma espécie de amizade política. Argumenta-se se um homem deve amar a si mesmo acima de tudo, pois isto pode ser a característica de um egoísta. Mas, segundo Aristóteles, o melhor amigo de um homem é aquele que visa o seu bem acima de tudo. Ainda que ninguém saiba disso, esta característica se enquadra perfeitamente no amor que deve ter pra si mesmo acima de tudo. Para ser amigo de alguém, o homem deve ser antes de tudo o seu melhor amigo. Mas isso, diferente do modo que a maioria o é, não sendo egoísta. Todo o homem feliz necessita de amigos. Aquele que está em dificuldade precisa de amigos para ajudá-lo a crescer. E o que tem abundância precisa para ter alguém a quem ajudar. Mesmo que um homem possua toda a riqueza, ainda assim, não seria feliz. Pois, para Aristóteles, o homem é um animal “cívico”, e a convivência social é essencial.

Diz Aristóteles que a felicidade é atividade constante. E atividade é algo que se faz continuamente. E por isso, não está conosco desde o principio, não nos pertencem. Temos que executá-la sempre. Aí então, seremos felizes. Conforme Aristóteles, amizade que se busca pelo prazer deve ter um limite, assim como para o tempero na comida, apenas certa quantia basta. Como também para as amizades que visam à utilidade, pois ter que retribuir serviços em excesso não é bom. E não ter tempo de vida o suficiente para tal não é característica do homem digno de felicidade. Na amizade nobre, dos bons amigos, seu numero é fixado pela convivência. Quanto mais amigos com os quais conseguirmos conviver, melhor é. Pois, segundo Aristóteles, o convívio é a principal característica da amizade e não conseguiremos conviver devidamente com um número muito grande de amigos. Aristóteles conclui que; a amizade é mais nobre quando estamos na riqueza, pois, aí vemos e ajudamos a quem amamos. A amizade se faz mais necessária na dificuldade, onde os amigos nos ajudam a superar as dificuldades e a prosperar.

ÉTICA A NICÔMACO. LIVRO X
PRAZER E A VIRTUDE

Em seu último livro, Aristóteles analisa o prazer. Diz Aristóteles que; o prazer é o sentimento que guia os jovens. Comprazer–se das coisas apropriadas e desprezar as más tem fundamental importância na formação do caráter.

Afirma Aristóteles que Eudoxo acreditava que o prazer é um bem, pois todos os animais buscam a ele. Segundo ele, o prazer quando buscado em razão de um outro bem (como a justiça), torna-se mais digno ainda, confirmando a idéia de que o bem só pode ser acrescido pelo bem. Considera-se ainda, que o prazer é indeterminado, pois, admite-se uma graduação, e o bem a que procuramos não, ele é determinado. O prazer acompanha a “vida ativa” e, por isso, não o sentimos continuamente. Algumas coisas nos são prazerosas quando novidades, e nem tanto quando deixam de ser. Isso se dá por causa da estimulação espiritual. De início, prestamos mais atenção a algo e depois, com nossa atividade menos intensa, já não mais prestamos tanto como antes.

O prazer complementa as atividades tornando a vida completa, estando os dois (prazer e vida) intimamente ligados, eles difere em várias espécies, por ocorrer sua divisão de acordo com a atividade que este complementa e intensifica. E cada atividade que é realizada com prazer é assim feita de uma maneira melhor, sendo assim alguém que tenha prazer em estudar geometria fará mais descobertas e entendera melhor o assunto por ter nele afinidade e prazer e quando nos comprazemos demais em uma determinada atividade nos dedicamos demasiadamente a ela e não servimos a mais nenhuma outra. Analogamente evitamos fazer aquilo que nos é penoso. Estes conceitos sobre o que é prazeroso e o que é penoso variam de pessoa para pessoa, pois o que é quente para um homem fraco pode não o ser para um robusto.

O homem para ser feliz precisa também de bens exteriores, pois nossa natureza não basta a si mesma, embora estes itens não devam ser necessariamente, muitos ou grandes, mas sim como Sólon os colocou, dizendo que o homem deve ser moderadamente provido de bens exteriores. Diz o autor que, alguns pensam que; por natureza nos tornamos bons. Outros acreditam que é pelo hábito, e outro pelo ensino. Mas, quanto a natureza, não depende de nós, ela se dá em decorrência da vontade divina, e pelo ensino. Alguém que vai aprender deve estar preparado para tal, tornando–se capaz de gostar ou sentir aversão de maneira correta através do hábito.

Para Aristóteles, fazer com que as pessoas ajam da maneira correta desde a infância é uma tarefa árdua. Sendo assim, devem existir leis definindo como deve ser educação dos jovens. Leis que devem vigorar também para os adultos. Pois, a maioria das pessoas age certo mas por medo do castigo do que pelo gosto à nobreza. Somente quando o homem tem um raciocínio que vise a honra o legislador deve agir de maneira diferente, deixando o poder coercitivo, o que raramente pode ocorrer. Pois, segundo o pensador, a maioria das pessoas não pensa assim. Portanto, o legislador deve continuar com este papel importante para que essas coisas sejam práticas na vida do homem, aí veremos qual é a melhor constituição, como deve ser estruturada cada uma delas, e quais as leis e costumes que convém a uma constituição utilizar para ser a melhor possível.

AVALIAÇÃO CRÍTICA

O tema da ética aristotélica é de grande importância para o enriquecimento do ser humano. Essa importância está em ser o primeiro tratado sobre o agir humano da história, o que torna inegável a sua para a história da filosofia. Foi possível, com este trabalho, dar atenção ao problema das relações entre os indivíduos, que é justamente a proposta e o objetivo da ética aristotélica.

Há primazia, também, na construção de uma ética científica; ela é classificada como uma ciência prática, como uma parte que antecede a política. Depois das ciências teoréticas, vêm as ciências práticas, que dizem respeito à conduta dos homens e o fim que eles querem atingir, seja como indivíduos ou como parte de uma sociedade política. O estudo da conduta e do fim do homem como indivíduo cabe à ciência ética.

Ao fazermos este trabalho, apontamos a responsabilidade. Aristóteles afirma que é necessário responsabilidade para que uma ação possa ser considerada como moralmente válida, isto é,  que não há moralidade em uma ação irresponsável ou naquela em que o sujeito age sem conhecimento pleno. Isso é mostrado na frase: “O homem é responsável pelos seus atos como o é responsável pelos seus filhos”. Podemos perceber que o homem é julgado pelos seus atos.

Destacamos também, após a leitura dessa obra, é a classificação das virtudes. Primeiramente Aristóteles faz uma distinção na alma humana: a que concebe um princípio racional e a desprovida de razão. No homem, há duas espécies de virtudes: intelectuais e morais. As virtudes intelectuais são resultado do ensino e necessitam de tempo, enquanto que as virtudes morais são resultado do hábito, e as adquirimos pelo exercício. As treze virtudes morais foram resumidas aqui, sendo elas o meio-termo em relação a dois extremos viciosos. Também foram resumidas as cinco virtudes intelectuais. Ressaltamos que as virtudes intelectuais são as melhores, uma vez que a melhor parte do homem é aquela que concebe um princípio racional. Das virtudes intelectuais, a sabedoria é superior.

Após a leitura desse trabalho, destacamos o ideal de felicidade. Ficou notório que feliz é aquele que vive as virtudes dentro da polis. É o que vive uma vida intelectual, capaz de dirigir bem a vida, percebendo o que é bem ou mal para si. A perfeição da atividade contemplativa é constituída pelo exercício dessa virtude, e, só assim, a felicidade máxima será possível ser alcançada.

Podemos avaliar a ética aristotélica, dizendo que sempre se pensa a ética na pólis; não há ainda a concepção de indivíduo separado de sua cidade. A vida ideal e feliz é a vida racional; essa vida feliz supõe a estima de si mesmo e a amizade.

Na ética aristotélica, toda ação humana está orientada para a execução de algum bem, ao qual estão unidos o bem e a felicidade; o bem possui o caráter de causa final, que age sobre o agente. Mas há uma dificuldade em determinar em que consiste esse bem e essa felicidade, já que não há a identificação do sumo bem do homem com deus, a ele corresponde o bem mais alto em si mesmo. Para Aristóteles há muitos bens: uns são preciosos ao ser humano, dignos de estima como a virtude, a alma e o entendimento; outros são desejáveis, como as virtudes que servem para agir bem; outros, como a força, o poder, a riqueza e a beleza são simplesmente potências, que podem ser empenhadas para o bem ou o mal; outros, como a saúde e a ginástica, contribuem para a prática do bem; uns, como a justiça e as virtudes, são sempre desejáveis, e outros, como a força, a riqueza e o poder nem sempre o são; alguns bens possuem finalidade, como a saúde, outros são meios para consegui-la, como a medicina; alguns bens pertencem à alma, como a virtude, outros ao corpo, como a saúde e a beleza, outros são exteriores, como as riquezas. Usando o método da exclusão, descarta-se que os bens do homem sejam os prazeres sensíveis, tampouco consistem nas riquezas, que são apenas meios para a felicidade; tampouco a glória e a honra, que são apenas uma compensação na vida política. Para determinar quais são os bens e a atividade própria do homem, Aristóteles analisa as funções do ser humano: uma é viver, mas esta é comum aos homens e às plantas, outra é sentir, que também é comum ao homem e aos animais, a terceira, e a que distingue verdadeiramente o homem, é a atividade racional; portanto, essa é sua atividade própria, e assim a vida do homem deve consistir em viver conforme a razão. Mas isso não basta: a razão deve dirigir e regular todos os atos da vida do homem, e isto consiste essencialmente na vida virtuosa. E, como há muitas virtudes, esta fórmula deve completar-se dizendo que a perfeição do homem, logo, seu bem e sua felicidade, é a atividade dirigida pela virtude mais alta e elevada, a sabedoria, porque ela é a virtude das virtudes. No primeiro livro da Ética à Nicômaco, Aristóteles detém-se nesse ponto; mas no livro X, tratando do mesmo tema, ele declara que a vida ideal é a teorética e contemplativa, quer dizer, o exercício da atividade na sua potência mais alta, que é a sabedoria.

Há uma medida para todas as ações humanas, que é o justo-meio. A felicidade é definida como atividade da alma, dirigida pela virtude perfeita; é excelente e divina, mas não é presente dos deuses e nem produto do acaso, porque é preciso conquistá-la com muito exercício e muita prática da virtude. Para tanto é necessário indagar sobre a virtude e em que condição ela é um meio-termo para a felicidade.

As virtudes morais são um meio entre dois extremos viciosos. Em toda quantidade é possível distinguir o excesso, o pouco e uma medida, que é o meio-termo; quando se trata de coisas, o meio-termo é aquele ponto que se encontra em igual distância entre dois pontos extremos, mas quando se trata do homem, o meio-termo é aquilo que não peca nem por excesso e nem por defeito, e esta medida é mutável e não é única para todos os homens. Como é difícil estabelecer o justo-meio em cada caso particular, deve-se deixar esta definição a uma pessoa sensata, que decida retamente; mas há casos em que não cabe estabelecer nenhuma medida, assim como em excesso não existe medida.

Dentre os limites, destaca-se primeiramente a necessidade da inserção do indivíduo na Pólis, há certo intelectualismo na visão de vida ideal, tanto que há um problema: ser livre implica necessariamente em ser racional.

É importante destacar que essa obra foi escrita a muitos anos, em uma época muito diferente da nossa, e, ao mesmo tempo, seus ensinamentos são atuais, possibilitando, se usados, proporcionar uma mudança favorável à vida da sociedade como um todo.


O FILÓSOFO